Houve um outro tempo. Um tempo em que nas vilas e nos povoados as pessoas não tinham carros ou motos, mas andavam a pé ou no lombo de animais. Era o tempo em que quase não havia meios de comunicação, o tempo em que não havia a disponibilidade de um telefone e não existia a internet, um tempo sem a rapidez de uma ligação ou de um e-mail ou então de uma simples mensagem de texto ou postagem no facebook, um tempo em que os homens se tornavam “pombos-correios”, usados como meio de comunicação entre as elites provincianas e seus “padrinhos”.
Era
o tempo em que as pessoas de Carnaubais moravam na várzea. O tempo em que
Carnaubais ainda não era Carnaubais, mas Poço da Lavagem, um povoado que
pertencia a Assu. Era o tempo em que João Batista de Araújo, conhecido como
João de Rita era o mensageiro das elites do povoado. O tempo em que ele a pé ou
no lombo de algum animal emprestado “diariamente
se deslocava do antigo Poço da Lavagem para transmitir aos coronéis do Assu os
pedidos de mercadoria ou de apadrinhamento que necessitavam aqui na província –
Abel Fonseca, Eloi Lacerda, Totonho Benevides, Zé Cabral e outros que gozavam
da amizade do Major Minervino Wanderley, Montenegro da Picada e Manoelzinho
Montenegro”.*
Sim,
era um outro tempo. O tempo em que os despertadores das pessoas eram o cantar
do galo, o escurecer era o chamado para todos se recolherem e um ano parecia
até dois. O tempo em que tudo andava mais devagar, com mais paciência, o tempo
em que as pessoas tinham mais tempo, o tempo em que as pessoas eram mais
tranquilas, os trabalhos e todas as atividades cotidianas não tinham tanta
pressa para acontecer, mas até pareciam que estavam acompanhando os ciclos da
natureza, que se moviam calmamente, esperando sempre a época certa e o tempo
determinado.
* LACERDA, Aluizio.Histórias daqui mesmo. Carnaubais 1992.
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